sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Grupos Revolucionários de Esquerda pouco conhecidos

Já vimos no blog alguns grupos de esquerda que foram muito importantes durante a luta armada, como exemplo MR8, MNR, ALN, etc. Porém, existem outros grupos que também foram muito importantes mas não são conhecidos pela grande maioria da população.



PORT - Partido Operário Revolucionário (Trotskista)

As primeiras dissidências de inspiração trotskista surgidas no Brasil remontam a 1929, logo após a expulsão de Trotsky da União Soviética. Os primeiros comunistas brasileiros que se alinharam com as idéias de Trotsky quando de seu rompimento com o Partido dirigido por Stálin organizaram-se como Liga Comunista Internacionalista ou Oposição Internacionalista de Esquerda. De início os trotskistas brasileiros acreditavam na possibilidade de “regeneração do PCB” e atuavam prioritariamente como propagandistas de posições políticas destinadas a viabilizar a esperada mudança.

Como regra geral, os trotskistas brasileiros não lograram constituir partidos com penetração expressiva no movimento operário e suas fileiras tiveram composição marcadamente intelectual. Em 1937, quando boa parte do CC do PCB se encontrava nos cárceres políticos de Getúlio Vargas, ocorreu uma cisão trotskista liderada por Hermínio Sachetta no Regional de São Paulo, que foi acompanhada por um certo número de bases operárias. Esse grupo criou um Partido Socialista Revolucionário, em 1943, que se dissolveu no final da mesma década.
Em 1938 Trotsky fundou no México a IV Internacional e a partir dai o trotskismo brasileiro passou a ter nesse organismo sua referência fundamental. Em 1953, quando a IV Internacional era dirigida por Michel Pablo, foi fundado no Brasil Partido Operário Revolucionário (Trotskista), sob influência do argentino Hornero Cristali, conhecido pela alcunha de J. Posadas, responsável pelo Birô Latino-Americano da IV Internacional.

O PORT ganhou alguma repercussão de âmbito nacional nos anos imediatamente anteriores ao Golpe Militar, quando, apesar de reduzido a pequenos contingentes de São Paulo, Pernambuco e Rio Grande do Sul, destacava-se pela proposição de táticas radicais de mobilização, dinamizando as Ligas Camponesas no Nordeste, buscando penetrarem determinadas bases das Forças Armadas e opondo-se frontalmente a qualquer política de moderação, como a proposta pelo PCB naquele momento.
Com o Golpe Militar, o PORT foi atingido pela repressão, formando-se contra ele volumosos processos, especialmente em Pernambuco e São Paulo. Gradualmente conseguiu recompor seu aparelho orgânico para manter, a partir de 1966, uma intervenção restrita ao meio estudantil e algumas áreas operárias, em São Paulo, Rio Grande do Sul e Brasília. Condenou energicamente os grupos que se lançaram à luta armada em 1968 e tentou deslocar seus reduzidos contingentes para o meio sindical, embora fossem em sua maioria provenientes do ME. Com pequena penetração de massa e tratado quase sempre com ironia pelos demais grupos marxistas, o PORT viveu novos golpes da repressão entre 1970 e 1972, ao mesmo tempo em que seus posicionamentos políticos passaram a desencadear, desde 1968, processos internos de cisão para constituição de outros agrupamentos trotskistas.


PRT - Partido Revolucionário dos Trabalhadores

Quando por volta de 1967 começou a ficar clara a predominância das concepções maoístas no interior da AP, algumas dezenas de militantes se unificaram numa oposição a tal rumo e constituíram o embrião do que viria a ser, em seguida, o PRT. Faziam parte desse grupo dois ex-presidentes da UNE, um ex-sacerdote católico que se notabilizara durante o governo Goulart por uma inserção radical na luta pelas Reforma de Base e no movimento das Ligas Camponesas, no Maranhão e em todo o Nordeste, o Padre Alípio, e ainda uma expressiva liderança camponesa de Goiás, José Porfírio. Esse último havia sido a principal figura das lutas camponesas de Trombas-Formoso, no interior de Goiás, por volta de 1956, e se elegera deputado estadual no período anterior a 1964. Em 1968 esse grupo apresentou para discussão na AP um documento intitulado “Duas Posições”. Na 1ª Reunião Ampliada da Direção Nacional (1ª RADN), realizada em setembro de 1968, o documento foi lido para os 30 presentes, mas não chegou a ser discutido. Após reunião, entretanto, seguiu-se fulminante ataque aos defensores do texto, nomeados pela direção da AP como “Grupo Oportunista e Provocador de Rolando”, ou simplesmente GOPR, e a expulsão do grupo se consumou em pouco tempo. O PRT, que nasceria dessa ruptura, foi uma organização que teve curta existência e um contingente bastante reduzido.
Em janeiro de 1969, os dissidentes publicaram o nº 1 - e único – da revista teórica “Revolução Proletária”, com cerca de 100 páginas que incluíam um projeto de Programa para a nova organização, um anteprojeto de estatutos, discussões sobre estratégia da guerra revolucionária etc. A constituição formal do PRT aconteceu, no entanto, apenas em setembro daquele ano, quando se realizou um congresso com poucos participantes, aprovando-se os documentos fundamentais do novo partido e elegendo-se uma Comissão Executiva Provisória.
As posições do PRT se distanciavam da AP em vários aspectos importantes. Os documentos do grupo dissidente criticavam a concepção do “Brasil semifeudal” e do Programa Democrático-Burgues para a transformação da sociedade, acentuavam o peso do proletariado industrial e da luta urbana nas definições de ordem estratégica, exprimiam um certo alinhamento com as posições assumidas internacionalmente por Cuba e, finalmente, defendiam a necessidade de se passar à luta armada em termos imediatos. Embora as bases do PRT e suas reservas mais importantes estivessem localizadas na área rural, entre remanescentes das lutas de Trombas-Formoso em Goiás, e em algumas localidades do Maranhão, a atividade do novo partido terminou sendo fundamentalmente urbana restrigindo-se a São Paulo, Rio de Janeiro e alguns contatos no Rio Grande do Sul.
Por certo período o PRT atuou em proximidade com a VAR e o POC, na tentativa de implementar um trabalho operário na linha das “Uniões Operárias”. Em abril de 1970 o PRT executou sua primeira ação armada, e no mês seguinte, já sofria os primeiros golpes da repressão, o que terminaria praticamente aniquilando a capacidade operacional do grupo, envolvido na execução de ações armadas para sobrevivência do pequeno aparelho orgânico clandestino. A partir daí não se teve mais notícia da sobrevivência do PRT, com os poucos dirigentes que escaparam das prisões se retirando para o exílio.
A proposta política do PRT influenciaria claramente, em 1971, as argumentações do grupo da AP que discordou do processo de incorporação ao PCdoB, incluindo-se entre eles, por ironia da história, alguns dos responsáveis pela expulsão do pessoal do PRT das fileiras da AP, três anos antes.



MRT - Movimento Revolucionário Tiradentes

Organização de contingente bastante reduzido e vida efêmera, o MRT existiu apenas em São Paulo. Começou a nascer no início de 1969, quando o Grupo Especial Nacional da Ala Vermelha, espécie de Comissão Militar daquela organização, assumiu uma atitude de confronto com a Direção Nacional Provisória, acusada de oportunismo e vacilações na aplicação de uma linha de luta armada. Em março de 1969 já foi executada uma operação armada na qual os panfletos distribuídos eram assinados por um “Grupo Especial Nacional Revolucionário”, apresentado com organização revolucionária independente. A figura de maior destaque nesse grupo era Devanir José de Carvalho, mais conhecido como Henrique.
Durante todo o ano de 1969 o novo grupo esteve voltado exclusivamente para a sobrevivência, tentativa de estruturação e preparação de algumas operações armadas. Em setembro foi realizada uma reunião em Campos do Jordão onde numerosos remanescentes de outros grupos guerrilheiros discutiram a possibilidade de incorporação à VAR Palmares. Uma parcela dos presentes a esse encontro efetivamente integrou-se à VAR, enquanto a maioria dos demais reuniu-se em torno de “Henrique” para criar o MRT no mês seguinte.
A primeira ação da organização com o nome MRT ocorreu em dezembro de 1969. Um assalto simultâneo a dois bancos em São Paulo, em cooperação com a ALN, a VPR e a REDE, valeu como interrupção de uma campanha propagandística dos órgãos de repressão que alardeavam o “fim do terror” após a morte de Marighella em novembro.
A vida do MRT durante todo o ano de 1970 consistiu basicamente na vida da frente Armada estruturada por sugestão de Câmara Ferreira, da ALN. Nesse ano foi praticamente inexistente a preocupação com o desenvolvimento de um trabalho político, não se trabalhou na elaboração de uma linha política própria e o rumo geral das atividades se resumiu à rotina da preparação e execução de ações armadas. Estas voltavam-se exclusivamente para a manutenção de infra-estrutura necessária à sobrevivência de militantes perseguidos do MRT e de outras organizações, como foi o caso do próprio Lamarca, abrigado no “aparelho” de Henrique após a fuga do Vale do Ribeira.
No início de 1971 o MRT planejou a formulação de uma linha política minimamente explicitada e chegou a publicar duas edições de um jornal intitulado Voz Guerrilheira. Entre março e abril a organização seria praticamente destruída pela ação dos órgãos repressivos, como desdobramento das prisões que atingiram a direção nacional da Ala Vermelha. Os integrantes do grupo de fogo do MRT, que praticamente se confundia com a própria organização, são atingidos por uma repressão feroz que implicou no assassinato sob torturas de muitos de seus dirigentes, entre eles o próprio Devanir.



RAN - Resistência Armada Nacional

O grupo começou a se constituir no segundo semestre de 1969 quando foram soltos da prisão em Juiz de Fora e retornaram ao Rio de Janeiro algumas das figuras de direção na malograda experiência da “Guerrilha de Caparaó”. Foram recontatados remanescentes do MNR, que se articularam para a reorganização de um grupo clandestino que não teve nome de início e tentou constituir-se como organização revolucionária a partir da publicação de um jornal. Em dezembro de 1970 foi distribuído o primeiro número desse órgão, intitulado Independência ou Morte.
A “organização”, como era conhecido o grupo no início, exprimia concepções políticas que eram uma mescla do pensamento marxista com o ideário do “nacionalismo revolucionário” do MNR. Considerava que o setor fundamental de atuação deveria ser a classe média, uma vez que só através desse setor se poderia despertar o interesse do proletariado e do campesinato para uma luta revolucionária. Essa organização tinha uma preocupação especial com a divulgação de suas bandeiras entre as Forças Armadas, procurando estabelecer ligações concretas com setores nacionalistas que pudessem existir nas corporações. Para despertar a simpatia desses, privilegiava as formulações de conteúdo patriótico nos artigos do jornal.
Nessa linha de preocupação com o nacionalismo, a organização escolheu a data de 7 de setembro de 1972 para adotar oficialmente a sigla RAN, pondo fim ao período em que existia sem ter nome, sendo, por isso, conhecida também pe-la designação de MIM - Movimento Independência ou Morte. Já no início de 1972 fora iniciada a publicação de uma revista intitulada Prisma, sigla que reunia as iniciais de “Pensamento Revolucionário Intelectual Socialista Marxista”. A RAN estava estruturada no Rio e em Minas Gerais, iniciando alguns contatos em São Paulo, no início de 1973, quando foi detectada e completamente desbaratada pelo DOICODI do Rio de Janeiro e por sua congênere mineira, culminando na detenção de quase uma centena de pessoas.



M3G - Marx, Mao, Marighella e Guevara

Um dos mais misteriosos grupos de guerrilha urbana que se formou no país nessa etapa de intensa repressão política. Existiu durante cerca de um ano, apenas em Porto Alegre e adjacências, e foi constituído e dirigido pessoalmente por Edmur Péricles de Camargo, cujo paradeiro permanece misterioso até os dias de hoje. Edmur trabalhara na imprensa gaúcha vinculada ao getulismo, no início dos anos 60 e estava ligado ao Comitê Estadual de São Paulo do PCB em 1967, quando esse organismo rompeu com a direção nacional, acompanhando as posições de Marighella na luta interna travada no partido. Nesse ano, Edmur, conhecido também como “Gauchão”, recebeu a incumbência do Comitê Estadual do PCB (pró-Marighella), de acompanhar uma luta camponesa que se desenrolava na cidade de Presidente Epitácio. Com o seu envolvimento, terminou sendo executado José Gonçalves Conceição, vulgo “Zé Dico”, principal latifundiário em confronto com os camponeses da região.
Com a volta de Marighella ao país, em 1968, Edmur recebeu novas incumbências em outros Estados, mas acabou se desentendendo com o fundador da ALN, na época em que a organização começava a se estruturar. Em abril de 1969, Edmur retornou ao Sul e em poucos meses articulou um grupo armado autônomo, de reduzido contingente, que terminou executando meia dúzia de assaltos a bancos, entre junho daquele ano e março de 1970, utilizando algumas vezes a sigla “M3G”. Registrou-se, na época, que esse grupo tinha uma estruturação política bastante inconsistente. Algumas das ações armadas executadas pelo M3G se deram em cooperação com a VAR-Palmares e com outros grupos armados estruturados no Rio Grande do Sul, principalmente na área da Grande Porto Alegre.
Em abril de 1970, Edmur e praticamente todo o grupo foram detidos no Rio Grande do Sul, numa seqüência de prisões que atingiu várias organizações que desencadeavam atividades conjuntas. “Gauchão” foi apresentado imediatamente à imprensa com grande sensacionalismo, fazendo declarações que incriminavam seus companheiros de ideologia. Em janeiro de 1971 foi incluído entre os presos políticos remetidos ao Chile em troca da libertação do embaixador suíço.

Estes são apenas alguns dos diversos grupos de esquerda que existiram naquela época.

Fonte: http://www.comunistas.spruz.com/pt/Grupos-Revolucionarios-de-Esquerda-pouco-conhecidos/blog.htm




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