domingo, 18 de novembro de 2012

Reparação: Herói da resistência à ditadura militar, Carlos Marighella recebe anistia "post mortem"

Extraído de: Partido Dos Trabalhadores  - 14 de Novembro de 2012

O Estado brasileiro, por meio da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, reconheceu a anistia post mortem de Carlos Marighella, ex-deputado federal, cassado em 1947, e preso político em 1932, 1936 e 1937. A Portaria 2.780/2012, que ratificou a decisão, foi publicada no Diário Oficial da União nesta quinta-feira, 8/11.

Eleito deputado federal constituinte na Bahia em 1946, o fundador da Aliança Libertadora Nacional (ALN), em 1968, foi alvejado por agentes do DOPS, ao supostamente resistir a prisão. Marighella foi assassinado em 4 de novembro de 1969, numa emboscada na alameda Casa Branca, em São Paulo.
O pedido de Anistia foi feito pelo filho Carlos Augusto Marighella e pela esposa Clara Charf. A família não pediu reparação econômica, apenas o reconhecimento da anistia política. Uma homenagem a Marighella foi feita durante a 53ª Caravana em Salvador, promovida em 5 de dezembro de 2011.
Durante a caravana, os conselheiros da Comissão, verificaram que o Estado interferiu em sua vida, privando sua liberdade ao prendê-lo e forçá-lo à clandestinidade e ao retirar sua vida.
O requerimento dos familiares foi enquadrado na Lei 10.559/02. 150 volumes de processo arquivados no Supremo Tribunal Militar (STM) comprovaram a perseguição, além do processo nº 202/96 da Comissão de Mortos e Desaparecidos e certidão de 106 páginas enviadas pelo Arquivo Nacional.


Fonte: http://pt.jusbrasil.com.br/politica/103772637/reparacao-heroi-da-resistencia-a-ditadura-militar-carlos-marighella-recebe-anistia-post-mortem

Câmara dos Deputados vai homenagear Marighella


A Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados aprovou requerimento da deputada federal Janete Capiberibe (PSB/AP) para realizar sessão de homenagem ao nascimento do político brasileiro, líder do PCB e da ALN – Ação Libertadora Nacional – Carlos Marighella. Nascido em Salvador, Bahia, em 5 de dezembro de 1911, ele foi considerado inimigo número 1 da ditadura militar, pela qual foi duramente perseguido e assassinado em 1969. A sessão de homenagem ainda não tem data para ser realizada.
Carlos Marighella
Inicialmente filiado ao Partido Comunista do Brasil – PCB, Marighella foi um dos principais organizadores da luta armada contra a ditadura militar. Em maio de 1936 foi torturado pela polícia de Filinto Müller por criticar o governo de Getúlio Vargas. Fica um ano preso. Solto, entra para a clandestinidade. Sempre combatendo as ditaduras brasileiras, em 1939 é preso novamente e fica encarcerado até 1945. Foi eleito Deputado Federal Constituinte em 1946 pelo PCB baiano.

Em maio de 1964, após o golpe militar, é baleado e preso por agentes do Departamento de Ordem Política e Social – DOPS . Libertado por decisão judicial, opta pela luta armada contra a ditadura. Em 1968 funda o grupo armado Ação Libertadora Nacional – ALN. E no ano seguinte, a ALN participa do sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick, juntamente com o Movimento Revolucionário 8 de Outubro – MR-8.
Em 4 de novembro de 1969, Carlos Marighella foi assassinado a tiros por agentes do DOPS, em uma emboscada chefiada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, na capital paulista.


Fonte: http://portal-vermelho.jusbrasil.com.br/politica/103777406/camara-dos-deputados-vai-homenagear-marighella

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Jovens estudantes tentam refundar partido símbolo da ditadura militar

Grupo publica programa da 'nova Arena' no Diário Oficial e busca adesões. Desiludidos com a direita, eles propõem sigla nacionalista e conservadora:

Extinta há mais de 30 anos com o fim do bipartidarismo no Brasil, a Aliança Renovadora Nacional (Arena) pode voltar à ativa nas mãos de jovens e com uma cara "nova". O estatuto e o programa do novo partido foram publicados no Diário Oficial da União na última terça-feira (13/11/2012), cumprindo um dos passos burocráticos para o registro da legenda.

A Arena foi fundada originalmente em abril de 1966 dentro do sistema de bipartidarismo imposto pelo regime, que extinguiu outros 13 partidos que existiam antes. Enquanto a Arena sustentava o governo militar, fazia oposição no Congresso o Movimento Democrático Brasileiro (MDB).

O partido elegeu todos os presidentes que se candidataram pela legenda, de Costa e Silva (1967-1969) a João Figueiredo (1979-1985). Foi extinto junto com o MDB em novembro de 1979, no processo de redemocratização que permitiu a abertura de novos partidos. Do MDB surgiu o PMDB; os remanescentes da Arena foram o antigo PDS (atual PP) e a Frente Liberal (atualmente DEM).

Nos anos 70, enquanto os militares estiveram no poder, o país viveu o chamado "milagre econômico", com altas taxas de crescimento econômico. No âmbito político, o período foi marcado por perseguição aos opositores do regime, com a violação de direitos humanos e políticos e a adoção de práticas como censura prévia da imprensa, tortura e assassinatos.

"Politicamente, a direita brasileira é um horror. Não existe. Tem vergonha de se assumir" - Cibele Baginski, presidente da nova Arena. 

Para fugir da repressão do Estado, políticos, militantes, artistas e pessoas de vários outros setores da sociedade buscaram exílio em outros países. Estima-se que mais de 420 pessoas foram assassinadas ou dadas como desaparecidas durante o período de exceção. Em maio deste ano, foi instalada a Comissão da Verdade, com o objetivo de apurar os crimes cometidos no período.

Valores e ideologia
Segundo sua idealizadora, a estudante de Direito Cibele Bumbel Baginski, 23 anos, a nova Arena rechaça a possibilidade de atrair grupos extremistas, com tendências fascistas ou neonazistas, por exemplo. Ela conta que o grupo já teve de aturar alguns tipos com "propostas absurdas", mas que, aos poucos, acabaram se afastando.


"Não viemos flertar com o totalitarismo. Nosso partido não é uma seita. Quem não tem capacidade de dialogar, pode pegar a mala e ir embora. Somos a direita democrática", garante.
O grupo de 144 pessoas, espalhados por 15 estados do país, diz querer promover o retorno da "verdadeira direita" ao cenário político brasileiro. A nova Arena defende o resgate de valores que consideram esquecidos, como o conservadorismo e o nacionalismo, um partido que defenda o Estado "necessário" e o direto à propriedade, por exemplo.

No programa da nova Arena, constam propostas como a privatização do sistema penitenciário; a abolição de qualquer sistema de cotas raciais, de gênero, ou condições "especiais"; a aprovação da maioridade penal aos 16 anos; o retorno ao currículo escolar de disciplinas como moral e cívica e latim; a retomada do controle de estatais fundamentais à proteção da nação; e o reaparelhamento das Forças Armadas.

Estudante na Universidade de Caxias do Sul (UCS), sediada no município de mesmo nome, é Cibele Bumbel Baginski quem assina como presidente provisória do partido o estatuto e o programa da nova Arena.


"Queremos implementar mudanças na sociedade de forma gradual, ordeira e com estabilidade. Propomos um jeito de fazer política com convicção, com propostas e focado na resolução dos problemas dos país. As pessoas querem solução e não discussão", argumenta.

O objetivo é erguer um partido assumidamente de direita. Para os neo-arenistas, há um espaço que precisa ser preenchido entre as 30 legendas atualmente existentes. "Politicamente, a direita brasileira é um horror. Não existe. Tem vergonha de se assumir. É a única direita que se vende para a esquerda", opina Cibele.


De acordo com o estatuto, a nova Arena "não coligará com partidos que declaram em seu programa e estatuto a defesa do comunismo, bem como vertentes marxistas". Caberá a um órgão chamado de Conselho Ideológico, entre outras tarefas, aprovar as correntes e tendências que venham a se formar internamente, além de "fiscalizar, e se necessário intervir, em todos os órgãos do partido". Esse conselho, a instância máxima, será formado formado por nove pessoas, das quais cinco serão membros permanentes e vitalícios.


"Não vamos flertar com o totalitarismo. Nosso partido não é uma seita. É direita democrática"- Cibele Baginski

Mobilização

A publicação no Diário Oficial é uma das etapas para a criação do partido. Após a sigla adquirir personalidade jurídica, os fundadores irão pleitear o registro junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Para isso, devem reunir 491 mil assinaturas de eleitores (0,5% dos votos válidos na última eleição para a Câmara dos Deputados) de pelo menos nove estados (um terço do total) – o grupo já tem de 40 a 50 mil, diz Cibele.
"A partir de agora é que vamos mobilizar nossos núcleos regionais para essa tarefa. Acredito que até meados de 2013 isso esteja pronto, e o partido apto a concorrer nas eleições de 2014", planeja Cibele.
Natural de Porto Alegre, a estudante reside em Caxias do Sul há cerca de quatro anos. O gosto pela política, diz ela, vem dos pais, um casal de comerciantes. A ideia de fundar uma legenda nova surgiu a partir de discussões entre colegas universitários e amigos sobre o modelo de partido ideal. Os debates se espalharam pela internet e encontraram adeptos em outros estados. Em junho, o grupo decidiu levar a proposta adiante e deu início aos trâmites burocráticos.
A proposta inicial não era ressuscitar a extinta Arena – o nome só foi escolhido depois, em votação, por sugestão de outra fundadora. A presidente da nova Arena não teme críticas pelo fato de o nome do partido estar associado à ditadura militar. Ela argumenta que o partido atuava dentro das leis da época e que os crimes cometidos durante o regime de exceção partiram das pessoas que controlavam o Estado e as instituições, não do partido.
"Não acho que seja algo ruim. É algo que ou você gosta ou você não gosta", diz Cibele, que cita o desenvolvimento econômico durante o período do regime militar como saldo positivo. "O país estava precisando de uma sacudida. Sem isso [o regime militar], o Brasil não seria o que é hoje", defende.
Autora de um livro de contos de publicação independente, que assina como Lady Baginski, a jovem que exibe um piercing nos lábios foge do estereótipo de conservadora. Ela conta que, por suas convicções políticas, já sofreu agressões verbais públicas no meio universitário, que considera “doutrinado” pelo pensamento marxista. Diz que cultiva amizades e consegue dialogar com pessoas de ideologias opostas.
O que era 
Segundo o verbete do Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro, organizado pelo CPDOC/FGV, a Arena foi um "partido político de âmbito nacional, de apoio ao governo, fundado em 4 de abril de 1966 dentro do sistema de bipartidarismo instaurado no país após a edição do Ato Institucional nº 2 (27/10/1965), que extinguiu os partidos existentes, e do Ato Complementar nº 4, que estabeleceu as condições para a formação de novos partidos. Desapareceu em 29 de novembro de 1979, quando o Congresso decretou o fim do bipartidarismo e abriu espaço para a reorganização de um novo sistema multipartidário".


O que será

De acordo com o estatuto publicado no Diário Oficial da União, a nova Arena é um partido que "possui como ideologia o conservadorismo, nacionalismo e tecno-progressismo, tendo para todos os efeitos a posição de direita no espectro político; devendo as correntes e tendências ideológicas ser aprovadas pelo Conselho Ideológico (CI), visando a coerência com as diretrizes partidárias. A Arena, em respeito à convicções ideológicas de Direita, não coligará com partidos que declaram em seu programa eestatuto a defesa do comunismo, bem como vertentes marxistas".


O que defendem os novos arenistas

- Privatização do Sistema Penitenciário.
- Abolição de quaisquer sistemas de cotas raciais, de gênero, ou condições "especiais".
- Aprovação da maioridade penal aos 16 anos.
- Retorno ao currículo escolar das disciplinas de Educação Moral e Cívica e Latim.
- Ensino da História do Brasil e História Geral sem ênfases tendenciosas doutrinariamente e com abrangência de todos os continentes, e não somente alguns.
- Defender o Estado Necessário
- Retomar o controle de todas as empresas estatais que são fundamentais à proteção da Nação.
- Reaparelhar as Forças Armadas, tirando-a de seu sucateamento e parco efetivo.


Fonte: 
http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2012/11/jovens-estudantes-tentam-refundar-partido-simbolo-da-ditadura-militar.html

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Luta pela Democratização

O governo do general Ernesto Geisel (1974-1979) foi caracterizado por ele mesmo como um período de distensão lenta, gradual e segura. A censura prévia foi abolida, primeiramente, no jornal O Estado de S. Pauloe a propaganda eleitoral foi permitida para as eleições de deputados federais e senadores em 1974. Entretanto, as medidas repressivas continuavam a atingir as organizações clandestinas, os partidos políticos ilegais, a imprensa, culminando com as mortes nas dependências do DOI-CODI de São Paulo do jornalista Vladimir Herzog e do operário Manoel Fiel Filho.

Em 31 de dezembro de 1978, o AI-5 foi definitivamente revogado. Diversos protestos, passeatas e manifestações dos diversos comitês pela anistia espalhados pelo Brasil e no exterior pressionavam o governo em favor da promulgação de uma anistia política. O projeto de lei encaminhado ao Congresso que excluía os presos políticos condenados que atuaram na luta armada foi duramente criticado pelo movimento de anistia, que exigiu, também, a localização dos presos políticos desaparecidos e mortos pela repressão e a punição dos torturadores. Em protesto, os presos políticos entraram em greve de fome por tempo indeterminado.

Em 1979, foi aprovada a Lei de Anistia que perdoou todos os crimes políticos cometidos entre 1961 e 1979, com exceção daqueles "que foram condenados pela prática de crimes de terrorismo, assalto, sequestro e atentado pessoal", como definido em seu artigo primeiro, segundo parágrafo. Na prática, permitiu o retorno dos exilados políticos ao Brasil e o perdão a todos torturadores e demais agentes públicos responsáveis pela repressão aos militantes políticos.

Com a assinatura da Lei de Anistia em 28 de agosto de 1979, os presos políticos resolveram terminar a greve de fome, considerando-a vitoriosa sob o ponto de vista político, mas denunciando seu caráter restritivo.

A Lei de Segurança Nacional foi reformada, reduzindo os prazos das penas dos presos políticos e beneficiando-os com liberdade condicional, mas mantendo os direitos políticos cassados por dez anos e obrigando-os a comparecer nas auditorias militares, semanalmente, para assinarem boletins de localização.

Ainda em 1979, uma nova lei permitiu o retorno ao pluripartidarismo, extinguindo a Arena e o MDB, aumentando, desta maneira, as pressões em várias áreas do espectro político, pedindo o retorno a um estado democrático de direito.

Em 1983, realizou-se, em São Paulo, o Congresso de fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT). No ano seguinte, aconteceu a primeira greve na história da Companhia Siderúrgica Nacional. Nesse mesmo ano, mais de um milhão de pessoas se reuniram pelas Diretas-Já na Igreja Candelária no Rio de Janeiro, movimento que reivindicava eleições diretas para a presidência. Simultaneamente, em São Paulo, mais de um milhão de paulistas ocuparam o Vale do Anhangabaú clamando por Diretas-Já.

Com a eleição indireta de Tancredo Neves em 1985, o Brasil tem novamente um primeiro presidente civil depois de 21anos de ditadura militar. Assim, oficialmente foram encerrados os governos autoritários dos generais presidentes.



Arquivo interessante: O engajamento dos exilados na luta pela Anistia - por Lucas Monteiro de Oliveira

Fonte: http://www.memoriasreveladas.arquivonacional.gov.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=18

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Documento da Aeronáutica revela análise do movimento guerrilheiro na América Latina


No século XX, a guerra de guerrilhas foi amplamente difundida na América Latina. Os principais grupos de guerrilheiros latino-americanos surgiram na Colômbia, Venezuela, Peru, Guatemala, Argentina, Brasil, Nicarágua, entre outros.
Contudo, somente duas guerras de guerrilhas lograram êxito no continente americano, isto é, conquistaram o poder. A primeira foi em Cuba, no ano de 1959, na chamada Revolução Cubana, com os líderes Fidel Castro e o mártir Ernesto Che Guevara (a imagem de Che configurou-se como representação ideal-típica do guerrilheiro). O segundo movimento guerrilheiro que ostentou a tomada do poder na América Latina se deu na Nicarágua, em 1979, por meio da Frente Sandinista de Libertação Nacional. Os principais líderes foram Augusto Sandino, fundador da guerrilha nicaraguense, na década de 1920; e Daniel Ortega, que assumiu o poder no ano de 1979.
As principais ações das guerrilhas consistiram na efetivação do foquismo (ou os chamados focos), que se pautava na existência de condições objetivas, nas quais a prática revolucionária poderia ser colocada em ação. A prática da guerra de guerrilha consistia no combate em focos revolucionários a partir da luta armada, ou seja, para as guerrilhas ou guerrilheiros a luta armada consistia na única forma encontrada para combater os regimes ditatoriais presentes em vários países da América Latina e para conquistar o poder.
Em vários países latino-americanos, os guerrilheiros de díspares concepções política-ideológicas, como nacionalistas, marxistas, guevaristas, entre outros, utilizaram a luta armada para combater as ditaturas instaladas em diferentes países latino-americanos, como nos casos do grupo guerrilheiro Sendero Luminoso, atuante nas décadas de 1970 e 1980, no Peru; e das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), atuantes até os dias de hoje.
No Brasil, a guerrilha de foco também existiu e foi colocada em prática pelos guerrilheiros brasileiros no ano de 1968, na conhecida Guerrilha do Araguaia, onde guerrilheiros revolucionários adotaram a luta armada como principal forma de derrubar a ditatura militar que havia sido instalada no Brasil, no ano de 1964. O foco guerrilheiro no Brasil se concentrou próximo ao rio Araguaia, na cidade de Xambioá, que naquela época pertencia ao estado de Goiás (hoje integra o estado do Tocantins), e na divisa dos atuais estados do Pará e Maranhão.
No final da década de 1960 e início de 1970, a Guerrilha do Araguaia foi duramente combatida pelo exército brasileiro. Sob o crivo do então presidente militar, Garrastazu Médici, vários guerrilheiros foram mortos e torturados pelos militares brasileiros. Até os dias atuais vários corpos de guerrilheiros que combateram na Guerrilha do Araguaia não foram encontrados.
Portanto, as tentativas de guerrilhas na América Latina não lograram êxito, com exceção de Cuba e Nicarágua (como foi dito acima), por diversos fatores: o primeiro seria o fato de as guerrilhas terem sido organizadas em locais isolados e remotos, como no caso da Guerrilha do Araguaia. O segundo fator foi a preponderância da questão militar sobre a questão política; e o terceiro fator que decretou a falência das guerrilhas foi a pouca importância dada às particularidades históricas de cada região/país. Dessa forma, as guerrilhas na América Latina decretaram falência.
Leandro Carvalho
Mestre em História


Fonte: http://www.documentosrevelados.com.br/repressao/documento-da-aeronautica-revela-analise-do-movimento-guerrilheiro-na-america-latina/

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O que realmente foi a Luta armada...

Sobre o assunto da luta armada contra a Ditadura Militar, é bom esclarecer alguns pontos fundamentais. 

Primeiro, que a mesma nunca foi a primeira opção de luta por parte das Oposições (estudantil, operária, camponesa, etc) contra a Ditadura Militar. 

A luta armada somente se transformou numa opção (e, mesmo assim, para grupos minoritários da oposição à Ditadura) depois que ficou claro que a Ditadura Militar não ia permitir mais qualquer tipo de continuidade dos protestos, manifestações, greves, entre outras formas de luta PACÍFICAS, contra a mesma. 

Inicialmente, tentou-se derrubar o Regime Militar de forma pacífica. Mas, com a inviabilização desta forma de luta, devido à brutal repressão desencadeada pela Ditadura Militar contra todos os movimentos de oposição (estudantil, sindical, camponês, político, de intelectuais, artistas, entre outros) é que se começou a discutir seriamente a possibilidade de se tentar derrubar a Ditadura através de uma luta armada que atraísse a maioria da população para a mesma. 

Além disso, o fato é que muitos outros grupos e movimentos políticos pegaram em armas para lutar contra regimes brutais e tirânicos em diferentes momentos da história. 

Um exemplo perfeito disso que eu quero lembrar é o de Nelson Mandela, e a organização que ele liderou, o Congresso Nacional Africano, que também pegou em armas na luta contra o regime racista do ‘Apartheid’ na África do Sul. 

Na época em que a Europa inteira estava sob o domínio do Nazi-Fascismo, tivemos movimentos de Resistência Armada contra o mesmo em inúmeros países do chamado 'Velho Mundo' (Itália, França, Iugoslávia, etc) e tais movimentos cometeram inúmeros atos de violência armada contra os nazi-fascistas e aqueles que os apoiavam. 

Nem por isso tais pessoas são consideradas terroristas ou assassinas pelos europeus, muito pelo contrário. Estes guerrilheiros são considerados como verdadeiros Heróis Nacionais, pois lutavam contra regimes tirânicos que aniquilaram com os Direitos e com as Liberdades da população, tal como fez a Ditadura Militar brasileira. 

Dilma, e muitos outros, aqui no Brasil, também fizeram a mesma coisa: LUTARAM CONTRA UM REGIME TIRÂNICO, que aniquilou com todas as Liberdades e com todos os Direitos da população. 

A Ditadura Militar DESTRUIU COM A DEMOCRACIA em nosso país e não deixou outra opção para as pessoas que quisessem continuar lutando a não ser partir para a luta armada.

Todos os movimentos políticos e sociais organizados e que atuavam pacificamente no Brasil contra a Ditadura Militar foram brutalmente reprimidos, desarticulados e silenciados pela mesma. 

E isso aconteceu com os movimentos sindical, estudantil, camponês, de artistas (exemplo: até Caetano Veloso e Gilberto Gil foram presos e tiveram que se exilar), intelectuais, partidos de oposição, entre outros. A imprensa foi totalmente censurada e somente se divulgavam as informações que eram toleradas pelo Regime ditatorial. 

Talvez muitos ainda não saibam, mas a Ditadura Militar brasileira foi tão brutal que ela cassou os direitos políticos, e por 10 anos, até mesmo de líderes políticos civis, e bastante conservadores politicamente, que apoiaram o Golpe de 64, como foi o caso de Carlos Lacerda (ex-governador da Guanabara) e de Adhemar de Barros (ex-governador de SP). Mesmo integrantes da ARENA, o partido que dava sustentação à Ditadura Militar, tiveram seus mandados e seus direitos políticos cassados. 

Portanto, a Ditadura Militar brasileira é que foi Terrorista, pois prendeu ilegalmente e torturou dezenas de milhares de pessoas (em torno de 50 mil), matando centenas delas.

E muitas pessoas talvez desconheçam, mas nenhuma lei da época da Ditadura Militar permitia que a mesma torturasse e assassinasse os prisioneiros políticos, tampouco que desaparecesse com os corpos das vítimas, tal como aconteceu com muitas delas. 

Portanto, a Ditadura Militar é que usou de uma brutal dose de violência terrorista contra TODOS aqueles que resistiram à sua Tirania e violência e, até mesmo, contra pessoas que não tinham qualquer militância política, apenas com o objetivo de manter o povo amedrontado e aterrorizado. 

Logo, a Ditadura Militar utilizou-se de métodos Terroristas para consolidar o seu poder. 

E mesmo pessoas que lutaram pacificamente contra a Ditadura Militar foram vítimas da violência terrorista praticada pela mesma. Este foi o caso, por exemplo, do ex-deputado federal Rubens Paiva, que NUNCA participou da luta armada e que, mesmo assim, foi preso (ilegalmente, pois não havia nenhuma acusação formal contra ele), torturado e assassinado pela Ditadura Militar. 

Além disso, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o pensamento Iluminista e Liberal, bem como a Doutrina da Igreja Católica, concordam com o fato de que quando existe um regime de Tirania (como foi a Ditadura Militar brasileira) as pessoas têm o direito de usar da luta armada para derrubar e destruir com esse regime de violência institucionalizada. 

Para saber um pouco mais sobre esse período da história do Brasil, sugiro a leitura do livro 'Batismo de Sangue', do Frei Betto, e daí muitos descobrirão que foi a Ditadura Militar quem cometeu atos de violência contra o povo brasileiro. 

Os guerrilheiros foram aqueles que tentaram destruir com essa Ditadura e impedir que ela continuasse praticando os seus inúmeros crimes e violências não apenas contra eles, mas contra todo o povo brasileiro. 

Por isso, tais pessoas, que lutaram heroica e bravamente contra um Regime Militar brutal e violento, deveriam ser (tal como Nelson Mandela e os membros do CNA e como os membros da Resistência anti-nazista e anti-fascista na Europa) sempre homenageadas e reverenciadas por terem sacrificado tudo, inclusive a própria vida, para lutar contra a Ditadura Militar.


Fontehttp://guerrilheirodoentardecer.blogspot.com.br/2010/04/guerrilha-contra-ditadura-militar.html

Líder da luta armada contra a ditadura brasileira é tema de filme e livro


Brasil - Revista de História - Guerrilha urbana no cinema; Marighella, um dos principais líderes da luta armada contra a ditadura militar, é tema de filme e livro.

"Para mim, ele era o tio Carlos, brincalhão, que fazia paródias das músicas de Roberto Carlos com os nomes dos nossos colegas. Ele sempre se escondia lá em casa. Uma vez, para explicar as ausências, inventou que tinha ido à África e trazido várias cobras dentro de caixas de sapato, para o Butantan, em São Paulo", lembra a cineasta Isa Grinspum Ferraz. O tio de Isa era Carlos Marighella (1911-1969), um dos principais líderes da luta armada contra a ditadura militar no Brasil. Em agosto, chegará pela primeira vez aos cinemas um filme sobre ele, dirigido pela sobrinha. No segundo semestre, será lançada uma biografia, após anos de pesquisa do jornalista Mário Magalhães, consultor do filme.
A produção de "Marighella" enfrentou alguns desafios logo de cara. A equipe pesquisou em Cuba, Moscou, Pequim e em vários arquivos do Brasil, mas não achou nenhuma imagem em movimento do militante. E as fotos – pouco mais de 20 – são todas do acervo da família. "Ele não podia deixar rastro. Queimavam coisas dele depois que ele saía lá de casa. Muitas pessoas que o conheceram mantiveram segredo sobre isso e só agora estão falando. Talvez por eu ser sobrinha, consegui que se abrissem comigo", conta a diretora, que entrevistou ex-guerrilheiros e alguns parentes, como a viúva do ativista, Clara Charf, e o filho, Carlinhos Marighella.
A pesquisa, que incluiu documentos da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) e gravações feitas em Cuba nos anos 1960, rendeu descobertas interessantes. "Os documentos da CIA confirmam como a agência estava envolvida na formação de torturadores na época. Mas em outros arquivos descobrimos coisas que não conhecíamos, como um movimento de apoio na Europa. Artistas como Joan Miró e Jean-Luc Godard enviaram dinheiro para Marighella", revela Isa.
Segundo Daniel Aarão Reis Filho, historiador da Universidade Federal Fluminense, Marighella ganhou respeito mundo afora, em grande parte pela militância na clandestinidade e pela experiência no Partido Comunista Brasileiro. "Ele representava uma espécie de síntese das virtudes então mais consideradas entre as esquerdas radicais. Tinha audácia, decisão de partir para o enfrentamento, capacidade de trabalho prático e comunicação fácil e fluente, inclusive com os jovens. Tudo isso misturado a muita irreverência, um bom humor permanente e uma ironia cortante na crítica às velhas tendências hegemônicas. Tais virtudes fizeram com que Marighella fosse ao mesmo tempo respeitado, admirado e querido", explica.
Esse documentário não é o primeiro sobre o militante. Silvio Tendler já havia lançado na televisão, em 2010, "Marighella – Retrato falado do guerrilheiro". Mas Isa pretende mostrar um recorte diferente: "Perguntaram se eu não ia ouvir o outro lado dessa história, a direita política. Eu não vou gastar tempo do meu filme para falar do ponto de vista que todo mundo sabe. Estou mostrando o ponto de vista de quem conviveu com ele".





Fonte: http://diarioliberdade.org/brasil/cultura-m%C3%BAsica/28349-l%C3%ADder-da-luta-armada-contra-a-ditadura-brasileira-%C3%A9-tema-de-filme-e-livro.html 

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Íntegras: Falácias sobre a luta armada na ditadura:

Militantes de grupos de luta armada criaram um discurso eficaz. Quem questiona "vira" adepto da ditadura. Assim, evitam o debate

Artigo para a Folha de Marco Antonio Villa, 51, é professor de história do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e autor, entre outros livros, de "Jango, um perfil

A LUTA armada, de tempos em tempos, reaparece no noticiário. Nos últimos anos, foi se consolidando uma versão da história de que os guerrilheiros combateram a ditadura em defesa da liberdade. Os militares teriam voltado para os quartéis graças às suas heróicas ações. Em um país sem memória, é muito fácil reescrever a história. É urgente enfrentarmos essa falácia. A luta armada não passou de ações isoladas de assaltos a bancos, seqüestros, ataques a instalações militares e só. Apoio popular? Nenhum. O regime militar acabou por outras razões.

Argumentam que não havia outro meio de resistir à ditadura, a não ser pela força. Mais um grave equívoco: muitos dos grupos existiam antes de 1964 e outros foram criados logo depois, quando ainda havia espaço democrático (basta ver a ampla atividade cultural de 1964-1968). Ou seja, a opção pela luta armada, o desprezo pela luta política e pela participação no sistema político e a simpatia pelo foquismo guevarista antecedem o AI-5 (dezembro de 1968), quando, de fato, houve o fechamento do regime.

O terrorismo desses pequenos grupos deu munição (sem trocadilho) para o terrorismo de Estado e acabou usado pela extrema-direita como pretexto para justificar o injustificável: a barbárie repressiva.

Todos os grupos de luta armada defendiam a ditadura do proletariado. As eventuais menções à democracia estavam ligadas à "fase burguesa da revolução". Uma espécie de caminho penoso, uma concessão momentânea rumo à ditadura de partido único.

Conceder-lhes o estatuto histórico de principais responsáveis pela derrocada do regime militar é um absurdo. A luta pela democracia foi travada nos bairros pelos movimentos populares, na defesa da anistia, no movimento estudantil e nos sindicatos. Teve na Igreja Católica um importante aliado, assim como entre os intelectuais, que protestaram contra a censura. E o MDB, nada fez? E seus militantes e parlamentares que foram perseguidos? E os cassados?

Quem contribuiu mais para a restauração da democracia: o articulador de um ato terrorista ou o deputado federal emedebista Lisâneas Maciel, defensor dos direitos humanos, que acabou sendo cassado pelo regime militar em 1976? 

A ação do MDB, especialmente dos parlamentares da "ala autêntica", precisa ser relembrada. Não foi nada fácil ser oposição nas eleições na década de 1970.

Os militantes dos grupos de luta armada construíram um discurso eficaz. Quem questiona é tachado de adepto da ditadura. Assim, ficam protegidos de qualquer crítica e evitam o que tanto temem: o debate, a divergência, a pluralidade, enfim, a democracia. Mais: transformam a discussão política em questão pessoal, como se a discordância fosse uma espécie de desconsideração dos sofrimentos da prisão. Não há relação entre uma coisa e outra: criticar a luta armada não legitima o terrorismo de Estado.

Precisamos romper o círculo de ferro construído, ainda em 1964, pelos inimigos da democracia, tanto à esquerda como à direita. Não podemos ser reféns, historicamente falando, daqueles que transformaram o adversário, em inimigo; o espaço da política, em espaço de guerra.

Um bom caminho para o país seria a abertura dos arquivos do regime militar. Dessa forma, tanto a ação contrária ao regime como a dos "defensores da ordem" poderiam ser estudadas, debatidas e analisadas. Parece, porém, que o governo não quer. Optou por uma espécie de "cala-boca" financeiro. Rentável, é verdade.

Injusto, também é verdade. Tanto pelo pagamento de indenizações milionárias a privilegiados como pelo abandono de centenas de perseguidos que até hoje não receberam nenhuma compensação. É fundamental não só rever as indenizações já aprovadas como estabelecer critérios rigorosos para os próximos processos. Enfim, precisamos romper os tabus construídos nas últimas quatro décadas: criticar a luta armada não é apoiar a tortura, assim como atacar a selvagem repressão do regime militar não é defender o terrorismo.

O pagamento das indenizações não pode servir como cortina de fumaça para encobrir a história do Brasil. Por que o governo teme a abertura dos arquivos? Abrir os arquivos não significa revanchismo ou coisa que o valha.

O desinteresse do governo pelo tema é tão grande que nem sequer sabe onde estão os arquivos das Forças Armadas e dos órgãos civis de repressão.

Mantê-los fechados só aumenta os boatos e as versões fantasiosas. 


Fonte: http://integras.blogspot.com.br/2008/05/falcias-sobre-luta-armada-na-ditadura.html

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Luta Armada das palavras: Entrevista com o Professor João Batista de Abreu

Joao_Batista
Durante dez anos, o professor João Batista de Abreu esquadrinhou os jornais que estiveram sob censura no regime militar, revelando uma outra guerra que se desenrolava nas redações dos diários daquele período. 
No combate paralelo travado entre jornais e censores, as armas eram as palavras: eufemismos utilizados ora para “amenizar”, ora para driblar/contornar as ações do “regime de exceção” que ditava o que deveria ou não ser publicado. Esse árduo cotidiano, também vivido por João Batista de Abreu, é examinado em detalhes no livro As manobras da informação: análise da cobertura jornalística da luta armada no Brasil – 1965-1979 (co-edição EdUFF/Mauad), que chega à segunda edição. Em entrevista à EdUFF, o autor – Doutor em Comunicação pela UFRJ e vice-diretor do Instituto de Arte e Comunicação Social da UFF – fala sobre a obra e o desafio dos jornalistas em tempos de ditadura.


Como se dava a censura nos jornais durante o regime militar brasileiro?

É importante ressaltar que uma matéria publicada é sempre fruto de um trabalho coletivo. Há o trabalho do repórter e eventualmente o do copydesk, mas sempre existe a atuação do editor. No período da luta armada, a presença do copydesk era vital, porque era uma época de fechamento político, em que as palavras ganhavam um peso enorme. Havia um “glossário” de palavras que existia somente no imaginário. Elas estavam fora do universo jornalístico. Isso acontecia por conta da censura oficial e de uma auto-censura, porque já se sabia que estas palavras revelariam a posição política do veículo. A palavra “tortura”, por exemplo, não podia ser usada. No caso dos jornais sob censura prévia, como O Estado de S. Paulo, Tribuna da Imprensa, Jornal da Tarde, O Pasquim, Opinião, Movimento e EX, isso ficava claro através da ação do censor, que cortava certas palavras. Mas mesmo no caso daqueles jornais que não estavam sob censura prévia – caso de O Globo e Folha de S. Paulo – seus editores não utilizavam determinados termos, porque sabiam que isso seria um ato de ousadia.

Além do emprego de eufemismos, havia outras formas de manipulação do conteúdo dos jornais?

Havia as distorções. Em 1964, o jornal que usasse a palavra “revolução” estava indicando, na verdade, sua posição favorável ao regime militar. A idéia de revolução é sempre boa, positiva, pois denota movimento e mudança para melhor. A História é marcada por revoluções e nós temos a tendência a acreditar que elas têm como resultado uma mudança para melhor. Isso está no imaginário das pessoas. Um dos usos do discurso é a formação de mentalidade. Durante a luta armada, havia duas guerras paralelas: uma era militar – com as forças armadas e os órgãos de segurança de um lado e os grupos clandestinos de outro – e a outra uma guerra de sentido, levada a cabo pelos jornais. Era uma guerra para conquistar a população civil. Nesse confronto, as vítimas eram os leitores desinformados, compelidos a acreditarem em determinadas coisas que o jornal “recorta”. Quando a finalidade política é descaracterizada e o enfoque passa a ser o caráter policial da ação, o resultado é que a ação é criminalizada através da edição. Se eu tenho uma matéria de um crime passional, jogo ao lado de uma matéria sobre um roubo de carro e publico juntamente com uma terceira reportagem sobre a invasão de um apartamento onde foram apreendidos livros da doutrina comunista e presas pessoas que eram procuradas, eu estou colocando essas três ações em um mesmo universo de sentido.

Isso ainda acontece?

Sim e principalmente com o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra). O MST é uma instituição que é criminalizada o tempo todo pela imprensa. As ações desse movimento são vistas como um desvio e, desta forma, se retira o caráter político de sua atuação. Isso também acontece com outras instituições, mas o MST é o mais visado, porque é aquele que mais ameaça. E, a meu ver, é o que toca em questões cruciais da estrutura da desigualdade social – a questão da terra –, que nunca foi resolvida no Brasil.

Sua atuação é voltada principalmente para o radiojornalismo. Por que a decisão de utilizar o jornalismo impresso em sua pesquisa?

O rádio e a TV são veículos mais difíceis de se analisar porque a atuação da censura no período em questão era mais draconiana, mais incisiva. De acordo com a Constituição vigente na época (e até hoje), rádio e TV são freqüências que pertencem à União, a quem cabe dar a concessão ou não. Assim, se um desses veículos apresentasse uma cobertura contrária ao regime, a qualquer momento essa concessão poderia ser suspensa. No caso dos proprietários de jornais e revistas, o governo não tem o direito de chegar e dizer “você não é mais dono”. Ele [o governo] podia pressionar os anunciantes, fazer fiscalizações freqüentes para ver se os empregados estavam contratados corretamente, se os impostos estavam sendo pagos. Essa era uma outra forma de pressão – que foi feita, e muito. Outro motivo pelo qual escolhi a mídia impressa é que para se analisar a cobertura de rádio e de televisão seria preciso analisar fitas de áudio e de vídeo. O cassete aparece somente em meados dos anos 1960 e, naquela época, os programas não eram gravados com a tecnologia que existe atualmente. Já o jornal é um material impresso, o que facilita a análise. Além disso, na época, os jornais tinham uma importância e um papel de formação da opinião pública muito maiores do que têm hoje.

Essa imprensa era dividida, simplesmente, entre os veículos de oposição e os de apoio ao regime?

É importante ressaltar o comportamento dinâmico dos jornais. Veículos que durante um período pequeno tiveram um papel de contestação – caso do Jornal do Brasil –, mais tarde adotaram uma posição de apoio ao regime militar. Em outras palavras, utilizaram um “discurso do silêncio”, que pode ser definido como o fato jornalisticamente relevante que não foi noticiado. Se uma explosão não é publicada por um determinado jornal, para o universo de leitores daquele veículo, ela simplesmente não aconteceu.

Quais os mecanismos usados para driblar essa censura?

O Estado de S. Paulo decidiu publicar poemas de Camões; o Jornal da Tarde, receitas; e a maior parte dos jornais “alternativos” utilizavam tarjas pretas com as frases “Leia e assine Opinião”, “Leia a Tribuna da Imprensa”. Essas atitudes informavam ao leitor que havia trechos proibidos. Pouca gente sabe, mas a revista Veja esteve sob censura e o diretor de redação, Mino Carta, colocava desenhos de “diabinhos” em cima dos trechos censurados. Esses eram indicadores, para os leitores, de que havia alguma coisa diferente. E a repetição dessas atitudes fez com que o público entendesse isso.

Como era ser integrante da equipe da Rádio JB durante a ditadura?

Era um desafio e ao mesmo tempo algo extremamente gratificante, porque a gente conseguia, em alguns momentos, ousar, transgredir o que a censura tentava impor. Era um verdadeiro trabalho de “guerrilha jornalística”. É importante ressaltar que tanto o JB quanto a Rádio JB nunca fizeram auto-censura na reportagem. Por exemplo, uma bomba explode em determinado lugar e nesse local são encontrados panfletos de uma organização anarquista. Devido à ditadura, já se sabia que esse fato não iria sair e o chefe de reportagem não mandava cobrir. Neste aspecto, a equipe da Rádio JB foi agraciada com a liderança de profissionais como Clóvis Paiva, Antônio Chrisóstomo e Ana Maria Machado, que não se deixavam intimidar e mandavam cobrir tudo o que acontecia. Era como se houvesse uma “resistência branca”. Apesar da censura, a gente sempre buscava uma forma de tentar cobrir e de botar no ar. Uma manifestação em favor da anistia, por exemplo, seria proibida pela polícia. Com isso, haveria caminhão da PM na rua, muita gente, engarrafamento. E aí, o que a gente fazia? Noticiava o engarrafamento. Em alguns outros poucos veículos, como na Jovem Pan, em São Paulo, e na Continental, em Porto Alegre, isso também acontecia.

A imprensa poderia ter optado por não encampar os termos “sugeridos” pelo regime militar? Como?

Sim. Tendo mais cuidado com a linguagem utilizada. Naquele período, a grande imprensa ou apoiava claramente o regime e se beneficiava disso – caso de O Globo e a Folha de São Paulo – ou era conivente, em boa parte do tempo, como o Jornal do Brasil. Tradicionalmente, no Brasil, a imprensa é conservadora e representa os interesses da elite. O golpe beneficiou basicamente uma elite, que tinha ligações com interesses norte-americanos. Na história do Brasil, talvez no período de Getúlio Vargas / Juscelino Kubitschek tenha existido um certo grau de pluralidade ideológica expressa nos meios de comunicação. A Última Hora e o Correio da Manhã eram exemplos disso. Com o golpe militar, os jornais que representavam esses segmentos mais progressistas fecharam, foram vendidos ou perderam expressão. Então restaram os jornais conservadores. Mas até mesmo estes, como o Estado de S. Paulo e o Jornal do Brasil tiveram, em um determinado momento, uma reação contrária ao fechamento do regime. É como aquela frase do Tancredo Neves: “A política é como uma nuvem: cada hora que você olha está de uma forma diferente”. Com os jornais acontece o mesmo. Não se pode afirmar que de 1964 até 1984 o jornal “A” teve o mesmo comportamento que o jornal “B”. O que eu vejo de diferente hoje é que os jornais estão cada vez mais se tornando empresas, com um certo grau de autonomia.



Fonte: http://www.editora.uff.br/noticias/entrevistas/5-imprensa-x-censura-a-luta-armada-das-palavras

domingo, 4 de novembro de 2012

"Cinema pela Verdade", Ditadura Militar e Luta Armada: Araújo, o Robin Hood brasileiro

Segue aqui o link de uma postagem interessante sobre a Luta Armada que Julio Cesar Marcellino Jr. colocou em seu blog no dia 16/09/2012. Na postagem, além de seus comentários e opiniões a respeito do tema, podemos assistir um depoimento de Carlos Araújo, ex-marido da presidenta Dilma Roussef, exibido no final da novela "Amor e Revolução", transmitida pelo SBT. 

  



Algumas das músicas de protesto à Ditadura Militar


Alegria, alegria

A música Alegria, Alegria foi lançada em 1967, por Caetano Veloso. Valorizava a ironia, a rebeldia e o anarquismo a partir de fragmentos do dia-a-dia. Em cada verso, revelações da opressão ao cidadão em todas as esferas sociais. A letra critica o abuso do poder e da violência, as más condições do contexto educacional e cultural estabelecido pelos militares, aos quais interessava formar brasileiros alienados.
Trecho: O sol se reparte em crimes/Espaçonaves, guerrilhas/Em cardinales bonitas/Eu vou…

Caminhando

Caminhando (Pra não dizer que falei das flores) é uma música de Geraldo Vandré, lançada em 1968. Vandré foi um dos primeiros artistas a ser perseguido e censurado pelo governo militar. A música foi a sensação do Festival de Música Brasileira da TV Record, se transformando em um hino para os cidadãos que lutavam pela abertura política. Através dela, Vandré chamava o público à revolta contra o regime ditatorial e ainda fazia fortes provocações ao exército.
Trecho: Há soldados armados / Amados ou não / Quase todos perdidos / De armas na mão / Nos quartéis lhes ensinam / Uma antiga lição: De morrer pela pátria / E viver sem razão

Cálice

A música Cálice, lançada por Chico Buarque em 1973, faz alusão a oração de Jesus Cristo dirigida a Deus no Jardim do Getsêmane: “Pai, afasta de mim este cálice”. Para quem lutava pela democracia, o silêncio também era uma forma de morte. Para os ditadores, a morte era uma forma de silêncio. Daí nasceu a ideia de Chico Buarque: explorar a sonoridade e o duplo sentido das palavras “cálice” e “cale-se” para criticar o regime instaurado.
Trecho: De muito gorda a porca já não anda (Cálice!) / De muito usada a faca já não corta / Como é difícil, Pai, abrir a porta (Cálice!) / Essa palavra presa na garganta

O bêbado e o equilibrista

O bêbado e o equilibrista, foi composto por Aldir Blanc e João Bosco e gravado por Elis Regina, em 1979. Representava o pedido da população pela anistia ampla, geral e irrestrita, um movimento consolidado no final da década de 70. A letra fala sobre o choro de Marias e Clarisses, em alusão às esposas do operário Manuel Fiel Filho e do jornalista Vladimir Herzog, assassinados sob tortura pelo exército.
Trecho: Que sonha com a volta / Do irmão do Henfil / Com tanta gente que partiu / Num rabo de foguete / Chora! A nossa Pátria Mãe gentil / Choram Marias e Clarisses / No solo do Brasil…

Mosca na sopa

Mosca na sopa é uma música de Raul Seixas, lançada em 1973. Apesar das controvérsias acerca do sentido da música, a letra faz uma referência clara à ditadura militar. Através de uma metáfora, o povo é a “mosca” e, a ditadura militar, “a sopa”. Desta forma, o povo é apresentado como aquele que incomoda, que não pode ser eliminado, pois sempre vão existir aqueles que se levantam contra regimes opressores.
Trecho: E não adianta / Vir me detetizar / Pois nem o DDT / Pode assim me exterminar / Porque você mata uma / E vem outra em meu lugar…

É proibido proibir

É proibido proibir é uma música de Caetano Veloso, lançada em 1968. Esta canção era uma manifestação das grandes mudanças culturais que estavam ocorrendo no mundo na década de 1960. Na apresentação realizada no Teatro da Universidade Católica de São Paulo, a música de Caetano foi recebida com furiosa vaia pelo público que lotava o auditório. Indignado, Caetano fez um longo e inflamado discurso que quase não se podia ouvir, tamanho era o barulho dentro do teatro.
Trecho: Me dê um beijo meu amor / Eles estão nos esperando / Os automóveis ardem em chamas / Derrubar as prateleiras / As estantes, as estátuas / As vidraças, louças / Livros, sim…

Apesar de você

Depois de Geraldo Vandré, Chico Buarque se tornou o artista mais odiado pelo governo militar, tendo dezenas de músicas censuradas. Apesar de você foi lançada em 1970, durante o governo do general Médici. A letra faz uma clara referência a este ditador. Para driblar a censura, ele afirmou que a música contava a história de uma briga de casal, cuja esposa era muito autoritária. A desculpa funcionou e o disco foi gravado, mas os oficiais do exército logo perceberam a real intenção e a canção foi proibida de tocar nas rádios.
Trecho: Quando chegar o momento / Esse meu sofrimento / Vou cobrar com juros. Juro! / Todo esse amor reprimido / Esse grito contido / Esse samba no escuro

Acender as velas

A música Acender as velas, lançada em 1965, é considerada uma das maiores composições do sambista Zé Keti. Esta música inclui-se entre as músicas de protesto da fase posterior a 1964. A letra deste samba possui um impacto forte, criado pelo relato dramático do dia-a-dia da favela. Faz uma crítica social as péssimas condições de vida nos morros do Rio de Janeiro, na década de 1960.
Trecho: Acender as velas / Já é profissão / Quando não tem samba / Tem desilusão / É mais um coração / Que deixa de bater / Um anjo vai pro céu

Que as crianças cantem livres

Que as crianças cantem livres é uma composição de Taiguara, lançada em 1973. No mesmo ano, o cantor se exilou em Londres, tendo sido um dos artistas mais perseguidos durante a ditadura militar. Taiguara teve 68 canções censuradas, durante o período de maior endurecimento do regime, no fim da década de 1960 até meados da década de 1970.
Trecho: E que as crianças cantem livres sobre os muros / E ensinem sonho ao que não pode amar sem dor / E que o passado abra os presentes pro futuro / Que não dormiu e preparou o amanhecer…

Jorge Maravilha

Jorge Maravilha, lançada em 1974, é mais uma música de Chico Buarque, agora sob o pseudônimo de Julinho de Adelaide, criado para driblar a censura. Os versos “você não gosta de mim, mas sua filha gosta” parecia uma relação conflituosa entre sogro, genro e filha. Mas, na verdade, fazia alusão à família do general Geisel. Geisel odiava Chico Buarque. No entanto, a filha do militar manifestava interesse pelo trabalho do compositor.
Trecho: E como já dizia Jorge Maravilha / Prenhe de razão / Mais vale uma filha na mão / Do que dois pais voando / Você não gosta de mim, mas sua filha gosta
Fonte: http://www.historiadigital.org/historia-do-brasil/brasil-republica/ditadura-militar/10-musicas-de-protesto-a-ditadura-militar/